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Como cada integrante da indústria do iGaming pode contribuir com o Jogo Responsável?

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Rafael Ávila

Sobre o autor

Rafael Ávila é Psicólogo com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), com vasta experiência no mercado de iGaming e Apostas Esportivas. Trabalha na área das Apostas Esportivas há mais de 4 anos, carregando experiências como apostador e coLeia mais
Psicólogo especializado em Jogo Responsável
imagem de executivos conversando

O Jogo Responsável é uma prática indispensável para um crescimento sustentável e ético do setor de iGaming em qualquer país do mundo.

Onde já há uma regulamentação, há diversas práticas que devem ser realizadas por empresas e pessoas envolvidas no setor, que incluem desde o uso de ferramentas de controle de jogos, financiamento de pesquisas científicas sobre o assunto e até controle da propaganda e marketing utilizado.

No Brasil, tudo ainda está engatinhando no setor do iGaming e, embora já sejam previstas algumas regras de Jogo Responsável na Lei 14.790/23, ainda ficaram muitas lacunas a respeito das regras, responsabilidades, fiscalização e punições em relação à exploração do mercado, que poderão ser esclarecidas na Portaria de Jogo Responsável prevista para Julho/24.

Mas já podemos, baseado na experiência internacional e até na experiência nacional durante os anos sem regulamentação, adiantar algumas práticas que podem ser adotadas por cada um dos integrantes envolvidos na indústria.

Os operadores: o que as casas de apostas podem fazer?

Os operadores podem contribuir para o Jogo Responsável fazendo o básico conhecido, ou seja, oferecendo ferramentas de controle do jogo para os usuários, como:

  • controle de limite de tempo;
  • controle de limite de depósito;
  • controle de limite de perdas;
  • auto exclusão da conta quando solicitado pelo usuário.

Essas são medidas simples e básicas que deveriam conter em todo e qualquer site de exploração de jogos de cassino e apostas esportivas.

Para além das medidas básicas, há diversas outras medidas que os operadores que queiram contribuir para um crescimento ético do setor podem adotar:

Oferecer informações de qualidade

É de suma importância que o operador eduque o seu usuário, oferecendo informações sobre as verdadeiras chances de ganhar, o que significa termos utilizados no setor como RTP (Return To Player), juice, aleatoriedade, fator de sorte e/ou azar, além de desmistificar certos pensamentos como “Quanto mais você joga, mais perto está de ganhar”; “O jogo pode ser uma renda extra”; “Saber do esporte é o suficiente para conseguir ter lucros”.

Treinamento da sua equipe de atendimento

Ter uma equipe de atendimento ao consumidor treinada pelos princípios do Jogo Responsável permite que você tenha um suporte qualificado e especializado para receber qualquer demanda dos usuários, auxiliá-los em relação ao jogo problemático e/ou patológico, além de conseguir prestar apoio e direcionamento ou encaminhamento para os serviços públicos ou Grupos de Apoio.

Ferramentas para identificação de comportamento de risco

O uso de softwares por parte dos operadores para identificar, avaliar e intervir em comportamentos de risco, como sucessivos depósitos, perdas muito grandes em pouco tempo, aumento considerável dos valores apostados sem justificativa, excesso de tempo gasto na plataforma, pode contribuir para uma intervenção prévia de forma a evitar que esse usuário enfrente problemas graves, ou impeça a criação de novas dívidas que possam atrapalhar o usuário.

É importante salientar aqui que essas ferramentas já existem e muitas já estão à disposição dos operadores, que utilizam os softwares mas com outros interesses e não o da proteção ao usuário.

Marketing ético

É importante, por parte dos operadores, conscientizar a sua equipe de marketing, além de oferecer treinamento e fiscalização para os afiliados que fazem a divulgação de sua marca, evitando termos como “renda extra”, “pague as contas” ou qualquer associação entre o jogo e ganhar dinheiro.

Um marketing ético e responsável trata o jogo como uma forma de entretenimento, e nunca como uma forma de ganhar dinheiro.

Os divulgadores: como os influenciadores podem contribuir?

Quem divulga casas de apostas nas redes sociais também tem a sua responsabilidade. Algumas iniciativas importantes são:

Combater marketing ilusório

Os influenciadores têm o dever de combater o marketing ilusório, evitando uso de elementos de ostentação, dinheiro, carros importados e tentando vender um estilo de vida luxuoso junto com o produto, levando os consumidores a se iludirem sobre as chances de enriquecimento através dos jogos.

Esclarecer como são distribuídas as premiações

Ao realizar a divulgação de alguma plataforma ou jogo, é importante que o influenciador explique como são feitas as distribuições dos prêmios e quais as verdadeiras chances de sair vitoriosas dos jogos, sem ilusões.

Sinalizar como publicidade a divulgação comercial das casas

É fundamental que os divulgadores levem a sério a proposta do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação) que propõe regras para a divulgação de serviços e produtos por parte dos influenciadores, sinalizando como publicidade quando houver um interesse comercial por trás da divulgação de um produto, indicando que tem uma parceria comercial com ganhos financeiros através da divulgação do produto e não necessariamente utilizando o produto e/ou serviço.

As intermediadoras de pagamento: como podem prevenir o superendividamento?

Limitação em métodos de pagamento será uma realidade com a regulamentação. Portanto, as empresas que intermediam as operações com as bets também têm papel fundamental para garantir um ambiente de jogo mais seguro. Algumas iniciativas que são interessantes:

Investir em ferramentas para identificação de comportamentos de risco

As intermediadoras de pagamento podem realizar um rastreio da quantidade de depósitos, o tempo entre cada depósito e a variedade de formas de depósitos utilizados pelos usuários, indicando um comportamento de risco de compulsão e, assim, emitindo um alerta.

Bloqueio de pagamento para casas de apostas

As intermediadoras podem, também, oferecer e divulgar o serviço de bloqueio do CPF para depósito em casas de apostas parceiras, pela solicitação do usuário, para que evite o comportamento impulsivo e compulsivo de pessoas que já se identificam como viciadas e com problemas decorrentes da prática do jogo.

O governo: o que o Estado precisa fazer?

Para além da regulamentação, que está em fase de implementação, o governo deve ter:

Regras eficazes baseados nas melhores práticas internacionais

O Estado deve acompanhar o mercado de iGaming em todo o mundo, para avaliar as melhores e mais eficazes práticas, com foco na prevenção aos danos e também em como atender a demanda de pessoas que já estão com problemas relacionados ao jogo.

Fiscalização rigorosa

para além da regulamentação, que já foi realizada e está em implementação, é necessário que o governo fiscalize de forma rigorosa e independente se as práticas exigidas estão sendo cumpridas, inclusive com um canal de denúncia por parte dos usuários para facilitar a identificação de operadores que estejam utilizando de má-fé e não cumprindo com os requisitos mínimos do Estado.

Punição exemplar

É importante que o Estado, além de fiscalizar, puna de forma exemplar os operadores que não se adequarem às regras, de forma a coibir a prática. A punição deve ser rígida, de forma que seja mais lucrativo para as empresas seguirem as regras do que estarem no risco de sofrer sanções por parte do Estado.

Os usuários: como os usuários podem contribuir para o fortalecimento do Jogo Responsável?

O usuário também tem seus deveres para garantir um ambiente mais saudável quando falamos de apostas e jogos online. Algumas ações que podem fazer para isso são:

Priorizar casas com Jogo Responsável

É importante que o usuário priorize a utilização de casas de apostas com práticas reconhecidas de Jogo Responsável, para demonstrar ao mercado o interesse por plataformas com essas diretrizes, sinalizando sua insatisfação com empresas que não respeitam as práticas do Jogo Responsável.

Denunciar más práticas

É fundamental que os usuários se unam e denunciem plataformas que não respeitem o Jogo Responsável ou que cometem más práticas, como retenção ou dificultação no saque, utilização de marketing agressivo e ilusório ou qualquer outra má prática do setor.

Utilizar as ferramentas de Jogo Responsável disponíveis

Não adianta que as plataformas ofereçam as ferramentas de Jogo Responsável se os usuários não as utilizam, e fique apenas como algo banal no site, sendo ignorado por todos.

As ferramentas de Jogo Responsável devem ser utilizadas, tanto para prevenção aos danos que possam ser causados pela prática do Jogo quanto para sinalizar para o site que as ferramentas estão sendo utilizadas e são importantes.

As ferramentas disponíveis são mais eficazes como forma de prevenção e não como forma de tratamento, então a utilização dessas ferramentas deve ser feita por todos os usuários, e não apenas aqueles que já experienciam problemas decorrentes do Jogo.

Essas são algumas medidas que todos os integrantes da indústria podem, e deveriam, aplicar para um crescimento ético e minimizando os danos provenientes da prática do jogo. É importante reconhecer que qualquer um envolvido com o jogo pode ter uma experiência negativa, tanto financeira quanto social.

Outra forma de apoiar o Jogo Responsável é apoiando instituições que prestam atendimento às pessoas dependentes no jogo, como a Gamble Aware e o SOS Jogador.

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