O poder dos influenciadores na publicidade de apostas esportivas
É inegável que na sociedade digital em que vivemos, os influenciadores desempenham um papel significativo na promoção de diferentes produtos e serviços, e as apostas esportivas não seriam, de nenhuma maneira, exceção.
A tendência de promoção de apostas esportivas por influenciadores levanta questões éticas e preocupações sobre o aumento da ludopatia e sobre o alcance desse tipo de publicidade por menores de idade.
Nesse texto, falaremos um pouco sobre o papel dos influenciadores na publicidade de apostas esportivas, os riscos associados à ludopatia e a necessidade urgente de uma regulamentação global.
Ação dos influencers
Os influenciadores, com sua capacidade de criar conteúdo envolvente e autêntico, conquistaram uma base de seguidores leais nas redes sociais. No contexto das apostas esportivas, esses influenciadores frequentemente colaboram com casas de apostas e cassinos online para promoção de suas plataformas.
“A abordagem descontraída e amigável dos influenciadores torna a publicidade de apostas mais acessível e atraente para seus seguidores.”
Sabe-se que a publicidade de apostas esportivas, impulsionada pelos influenciadores, muitas vezes se destaca por suas promessas de grandes ganhos e experiências emocionantes.
Essa abordagem que alinha apostas à possibilidade de transformação social pode criar expectativas irreais entre os consumidores, levando a comportamentos arriscados e compulsivos.
Nesse sentido, a proliferação da publicidade de apostas em plataformas digitais cria uma presença constante, aumentando a exposição dos usuários, mesmo quando eles não estão ativamente procurando por esses serviços.
Como se não bastasse, a utilização de influenciadores nas campanhas de apostas esportivas aumenta o alcance dos operadores para jovens, menores de idade com a personalidade não formada por completo e, portanto, mais suscetíveis à influência.
Ludopatia
Ainda que apostar seja natural e uma forma de diversão, a normalização em excesso da prática do jogo e apresentação de tais modalidades como uma possibilidade “fácil” de transformação social, podem elevar ao aumento dos casos de ludopatia.
A ludopatia, ou jogo compulsivo, é um transtorno psicológico sério e que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
A exposição constante à publicidade de apostas, especialmente por meio de influenciadores, pode ser um fator contribuinte significativo para o desenvolvimento e agravamento desse problema.
Os indivíduos afetados pela ludopatia frequentemente enfrentam dificuldades em controlar seus impulsos de jogo, levando a perdas financeiras substanciais, problemas de relacionamento e até mesmo questões de saúde mental mais amplas, como ansiedade e depressão.
“É imperativo que a sociedade e as autoridades reconheçam a seriedade da ludopatia como uma questão de saúde pública e ajam para mitigar seus impactos negativos.”
O aumento da acessibilidade às apostas esportivas online, facilitado por influenciadores que promovem plataformas de apostas, torna essas questões mais prementes do que nunca.
Aqui no Brasil, recentemente, ganhou destaque na imprensa um caso específico de determinado operador, amplamente divulgado por influenciadores, que, não apenas não performaria qualquer tipo de fiscalização com relação à verdadeira idade de seus usuários, mas, supostamente, deixaria de efetuar o pagamento de grandes prêmios.
É grave esse tipo de conduta, especialmente ao se ter em vista a dificuldade de processar uma empresa sediada em território internacional (mas isso será tema de um próximo artigo nessa coluna).
Voltando ao assunto, pesquisas indicam uma correlação entre a exposição à publicidade de apostas e um aumento nas taxas de ludopatia, especialmente entre os jovens.
A pressão social para participação nesse tipo de atividade, muitas vezes perpetuada por influenciadores, pode levar os indivíduos a se envolverem em comportamentos de jogo prejudiciais, com consequências significativas para sua saúde mental e bem-estar financeiro.
Diante dos riscos associados à publicidade de apostas esportivas, muitos países têm implementado regulamentações mais rígidas para controlar a indústria do jogo.
No entanto, as fronteiras digitais tornam desafiador regular efetivamente essa prática, especialmente quando influenciadores podem atingir audiências globais instantaneamente.
Regulamentação global é a saída
Uma abordagem global para a regulamentação se faz necessária. A cooperação entre os países para criar padrões e diretrizes comuns pode ajudar a conter os excessos da publicidade de apostas e proteger os consumidores vulneráveis.
Essa regulamentação deve abranger não apenas as práticas diretas das casas de apostas, mas também as estratégias de marketing empregadas, incluindo a colaboração com influenciadores.
Enquanto a regulamentação global é essencial, aqui no Brasil – na iminente e tão esperada regulamentação – já está previsto que as ações de comunicação e publicidade da loteria de apostas, veiculadas pelos agentes operadores, deverão incluir avisos de desestímulo ao jogo e advertência sobre seus malefícios, além de observarem a restrição de horários e canais de veiculação.
Serão, ainda, vedadas as publicidades que apresentem a aposta como socialmente atraente ou contenham afirmações de personalidades conhecidas que sugiram que o jogo contribui para o êxito social ou pessoal.
O CONAR ainda não se pronunciou sobre o papel dos influenciadores nessa questão ou com relação a eventuais restrições a serem impostas a eles. Face aos recentes casos, não haverá qualquer surpresa em medidas mais limitadas à publicidade em redes sociais.
Para além da regulamentação, os próprios influenciadores também têm o potencial de reconhecer o papel que exercem e promoverem práticas éticas em suas “publis”.
Além de serem transparentes, registrando a relação financeira que possuem com a casa de apostas divulgada (assegurando que os seus seguidores estejam cientes de qualquer incentivo financeiro envolvido na promoção de apostas esportivas), os influenciadores devem ser responsáveis, informando aos seguidores, especialmente aqueles mais jovens, dos riscos da prática.
Vale dizer, ainda, que os influenciadores podem escolher divulgar apenas casas de apostas que seguem práticas éticas e promovem o jogo responsável. Optar por não promover apostas excessivas e estratégias de jogo de risco é fundamental.
A conscientização e a responsabilidade são papeis de todos aqueles que têm o potencial de construir uma sociedade digital mais consciente e um mercado de apostas mais seguro, protegendo os consumidores de práticas prejudiciais e promovendo o jogo responsável.