O papel dos clubes na promoção do Jogo Responsável
A consolidação do patrocínio de casas de apostas no futebol brasileiro inseriu os clubes em um papel central dentro do ecossistema do iGaming e das apostas esportivas.
Com marcas estampadas em camisetas, campanhas publicitárias e presença constante nas redes sociais, as marcas de apostas ganharam a confiança e a audiência de milhões de torcedores.
A pergunta que se impõe é simples: os clubes podem fazer mais do que apenas exibir patrocinadores? A resposta é sim, especialmente quando o assunto é Jogo Responsável.
Dia da Responsa: Um bom exemplo a ser seguido
Em 2015, o futebol brasileiro deu um exemplo emblemático de como seu poder simbólico pode ser direcionado para causas públicas.
No "Dia da Responsa", campanha nacional da Ambev sobre consumo consciente de álcool, clubes como Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Internacional assumiram papel de protagonismo.
Usaram uniformes personalizados, placas nos estádios e redes sociais para transmitir mensagens como "Beber e dirigir é bola fora" e "Consumo em excesso é pênalti".
Mais do que peças publicitárias, essas campanhas foram manifestações públicas de cuidado. Mostraram que clubes de futebol podem falar com responsabilidade, empatia e contundência.
O vínculo entre apostas e clubes: uma nova responsabilidade
Hoje, o envolvimento dos clubes com o mercado de apostas representa não apenas uma nova frente de financiamento, mas também um novo desafio ético.
A normalização das apostas como parte da cultura do torcedor, muitas vezes jovem, exige que os clubes também sejam promotores de uma cultura de responsabilidade.
Assim como já fizeram em campanhas contra o racismo, a homofobia e em prol da saúde pública, os clubes têm legitimidade para conduzir campanhas de Jogo Responsável. Afinal, nenhuma instituição se comunica com tanta identificação e alcance quanto um clube de futebol.
O que os clubes podem fazer:
- Integrar mensagens de Jogo Responsável em suas redes, placas, transmissões e conteúdos digitais
- Estabelecer cláusulas contratuais com patrocinadores exigindo ações educativas sobre o risco do jogo patológico
- Atuar como ponte entre os torcedores e canais de acolhimento e tratamento
Exemplos mundiais
Na França, o Paris Saint-Germain (PSG) protagonizou uma campanha da operadora FDJ com foco em Jogo Responsável.
Em vídeos educativos, atletas do elenco principal alertaram sobre os riscos do jogo descontrolado e reforçaram que apostar deve ser apenas uma forma de entretenimento, não uma fonte de renda ou solução para problemas financeiros.
Mas, aqui no país, o futebol brasileiro também já provou, mais de uma vez, que pode se posicionar.
O "Dia da Responsa" permanece como uma memória positiva de quando os clubes falaram com seriedade sobre um problema de saúde pública.

“A ludopatia também é uma questão de saúde pública — e o silêncio institucional dos clubes não pode ser a resposta.”
Se o futebol já ajudou a mudar comportamentos no trânsito, no consumo de álcool e no preconceito, ele também pode ajudar a transformar a relação do torcedor com as apostas compulsivas. Basta querer jogar do lado certo.