Apostas em lances específicos: proibir ou não proibir, eis a questão

Atualizado: 30 Jan 2024
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Mariana Chamellete

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Larissa Borges

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Imagem de uma bola de futebol em um campo, vemos também o pé de um atleta fazendo o chute. Ele usa chuteiras vermelhas

A discussão sobre a proibição de apostas esportivas em lances específicos, como cartões amarelos e vermelhos, faltas, penalidades e outros, tem ganhado destaque em diversos países ao redor do mundo.

Enquanto alguns defendem essa restrição como uma medida para preservar a integridade do esporte, outros questionam se essa abordagem é eficaz e se pode resultar em benefícios tangíveis.

Em muitos países, as apostas esportivas são regulamentadas de maneira diversa, o que reflete na forma como as apostas em lances específicos são tratadas.

Alguns países optam por proibições estritas, alegando que elas impedem a manipulação de resultados e preservam a ética do esporte. Outros, por sua vez, adotam uma abordagem mais flexível, com regulamentações que permitem certos tipos de apostas.

Na Inglaterra, por exemplo, as apostas em lances específicos são amplamente aceitas e fazem parte integrante da experiência de apostas esportivas.

Já em outros países europeus, como a Alemanha, há uma postura mais restritiva, com a proibição de apostas em certos eventos durante uma partida.

Por sua vez, nos Estados Unidos, o cenário é dinâmico, com a legalização das apostas esportivas em muitos estados.

Contudo, as restrições ainda existem em algumas ligas esportivas, como a National Collegiate Athletic Association (NCAA), que proíbe apostas em lances específicos durante competições universitárias.

Aqui no Brasil, essa espécie de proibição vem sendo debatida e é objeto do Projeto de Lei nº 2842/2023, que tramita na Câmara dos Deputados.

No projeto de Lei, que está sob avaliação da Comissão de Esporte da Câmara, proíbem-se as apostas de quota fixa em cartões, pênaltis e escanteios.

A preocupação trazida por meio do projeto de lei não é descabida. O caso da Operação 'Penalidade Máxima’, no futebol brasileiro, exemplifica a manipulação de lances individuais em apostas esportivas.

Liderada pelo Ministério Público de Goiás, a investigação revelou um esquema em que jogadores foram abordados por grupos criminosos para influenciar eventos específicos de partidas nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro e torneios estaduais de 2022, tais como cartões amarelos, expulsões e pênaltis.

Apostas em lances individuais

Mas, afinal, proibir apostas em lances individuais resolveria o problema?

Inicialmente, é imperativo destacar que a proibição de apostas em lances específicos é amplamente considerada, em diversos âmbitos, como uma medida crucial para a preservação da integridade no mundo esportivo.

O principal ponto dos defensores dessa proibição é mitigar a manipulação de eventos durante as partidas, garantindo, assim, a credibilidade e honestidade nos cenários esportivos.

Nesse contexto, a proibição das apostas em lances individuais desempenharia um papel crucial ao proteger os atletas contra possíveis influências externas relacionadas às apostas, assegurando, assim, a imparcialidade e autenticidade em suas performances.

Ademais, os defensores da tese sustentam que a proibição visa não apenas proteger a integridade das competições, mas também resguardar a saúde mental e emocional dos atletas.

Isso porque a abordagem de criminosos para a manipulação de apostas em lances específicos vem acompanhada do argumento de que esse tal tipo de situação não afetaria o desempenho coletivo da equipe.

Fronteira clara

Além disso, à luz dessa perspectiva, a proibição poderia se revelar como uma salvaguarda contra possíveis conflitos de interesses que eventualmente surgiriam caso os próprios atletas estivessem envolvidos em apostas relacionadas aos seus desempenhos individuais.

Manter uma fronteira clara entre as atividades de apostas e a atuação dos atletas contribui para preservar a imparcialidade e a integridade das competições esportivas, evitando que pressões externas comprometam o curso natural dos eventos.

Outro aspecto a ser considerado, do ângulo dessa visão, é que a proibição também agiria como uma barreira à abordagem de árbitros para manipulação.

Os árbitros, como figuras-chave na condução das partidas, detêm um poder significativo para influenciar o resultado por meio de suas decisões.

Nesse sentido, caso não haja proibições claras e rigorosas, a tentação de manipulação por parte dos árbitros poderia aumentar, minando a confiança no fair play e comprometendo a credibilidade do esporte.

Assim sendo, sob tal ótica, a proibição de apostas em lances específicos não apenas resguardaria a integridade das competições, mas também seria relevante para atuar como um escudo protetor para os atletas e árbitros, assegurando a pureza do esporte e proporcionando uma experiência mais autêntica e confiável para todos os envolvidos.

Contudo, sabemos, a proibição não evitaria o possível surgimento de um mercado informal e não regulamentado. É inegável que o avanço tecnológico transformou o panorama das apostas esportivas, ampliando as oportunidades de acessos a websites internacionais.

Nesse contexto, a proliferação de plataformas online e aplicativos cria um desafio considerável para a efetivação de proibições, uma vez que oferecem acesso fácil a uma ampla gama de opções de apostas, mesmo quando sujeitas a restrições.

A complexidade da situação exigiria, pois, uma abordagem adaptativa que levasse em consideração os avanços contínuos na esfera digital, já que as práticas de manipulação de resultados em lances específicos, podem se aproveitar da conveniência e da ampla disponibilidade proporcionadas pela tecnologia, tornando-se mais difícil de serem detectadas e controladas.

Afinal, os apostadores não perderiam interesses nesse tipo de aposta, muitas vezes mais vantajosa em suas odds.

O mercado paralelo impactaria em inegável perda de receitas para operadores legais e para os governos. Trata-se de uma consideração séria a ser levada em conta, uma vez que levanta questões sobre o delicado equilíbrio entre a integridade esportiva e as realidades econômicas.

O debate está longe de ser concluído. A medida enfrenta considerável discussão entre os legisladores, e a sua implementação dependerá das decisões nas próximas etapas legislativas.

A questão central permanece: como encontrar um equilíbrio entre regulamentação e liberdade de escolha, preservando tanto a integridade do esporte quanto a autonomia dos apostadores?

O Brasil, assim como outros países, está em um momento crucial na definição do futuro das apostas esportivas e na busca por um cenário regulatório que concilie esses interesses divergentes.

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