O Jogo Responsável serve apenas para pessoas viciadas em apostas?

Atualizado: 23 Jul 2024
rafael avila expert

Rafael Ávila

Sobre o autor

Rafael Ávila é Psicólogo com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), com vasta experiência no mercado de iGaming e Apostas Esportivas. Trabalha na área das Apostas Esportivas há mais de 4 anos, carregando experiências como apostador e coLeia mais
Psicólogo especializado em Jogo Responsável
jogo responsavel e vicio em apostas

Jogo Responsável é um conjunto de práticas e diretrizes que servem para nortear tanto a exploração dos jogos de azar por empresários quanto para prevenir que os usuários tenham descontroles com sua prática do jogo.

É considerado descontrole no jogo comportamentos que causam consequências para sua vida, como perda do patrimônio, contração de dívidas, quebra do vínculo familiar, perda do interesse por outras atividades de lazer, perda do emprego entre diversas consequências psicológicas como sintomas de ansiedade, sintomas depressivos entre outros.

É importante que o usuário, ao decidir buscar nas apostas esportivas ou nos jogos de cassino uma forma de diversão, entenda do que se trata o Jogo Responsável e qual a sua importância, desde o seu primeiro contato com atividades de jogos de azar.

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Por isso também é importante que os operadores facilitem o contato do usuário com as noções e definições do Jogo Responsável. 
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Rafael Ávila

Psicólogo especializado em Jogo Responsável

O ideal é apresentar as ferramentas disponíveis na plataforma desde o primeiro contato, no ato do cadastro, de forma prévia e preventiva e não apenas depois que se detectar um padrão de jogo irresponsável e danoso. Afinal, as boas práticas para apostar servem para todos os usuários, não apenas aqueles que já apresentam um comportamento compulsivo e impulsivo.

Jogo Responsável como prevenção

Quando se fala sobre Jogo Responsável, a maioria do que é dito é como uma prática de ajudar as pessoas a diminuir seus danos com o jogo reconhecendo padrões de comportamentos que já deixam claro que não estão sendo respeitados os limites saudáveis de uma interação com os mesmos.

Mas a adoção dessa prática se torna mais efetiva e eficaz se introduzido antes do surgimento dos problemas, ou seja, já no primeiro contato do usuário com os jogos de azar.

O Jogo Responsável como atividade preventiva traz uma perspectiva de proteção para todos os usuários, reconhecendo que qualquer pessoa está em risco do desenvolvimento de problemas relacionados ao jogo.

Além disso, fornece ferramentas de controle para os usuários que possam perceber seus padrões de comportamentos se alterando com o tempo.

Com a consciência dessa alteração, o apostador já pode buscar alternativas, regular a sua atividade de jogo ou até procurar ajuda profissional antes que o problema se torne maior e mais complexo de se resolver.

Isso reforça uma visão de que, embora não sejam todos que vão sofrer com as possíveis consequências do jogo, todos envolvidos podem estar propensos e precisam que essa atividade seja feita com responsabilidade, ciente de todos os riscos que podem surgir e sem ilusões como “dinheiro fácil” e “renda extra”.

Jogo problemático x Jogo patológico

Quando se fala sobre os danos que a atividade que o jogo pode trazer, a atenção se volta principalmente para o Transtorno do Jogo, a dependência e vício em apostas e jogos de azar.

Estima-se que cerca de 3% da população brasileira cumpra os critérios que indicam o Transtorno do Jogo. Já foi trazido aqui no Aposta Legal Brasil o assunto sobre o vício em apostas, como os critérios de diagnósticos e sobre a compulsão.

Porém, é importante trazer à tona números mais precisos sobre os possíveis danos que podem ser causados pela atividade. Na área da saúde, o apostador pode ser visto de três maneiras:

  • apostador recreativo;
  • apostador problemático;
  • apostador com diagnóstico de transtorno do jogo.

No Transtorno do Jogo, há a presença de critérios diagnósticos que devem persistir há, pelo menos, 12 meses.

Critérios diagnósticos

A pessoa precisa apresentar pelo menos quatro (ou mais) critérios em um período de 12 meses para ter o diagnóstico:

  1. Necessidade de apostar quantias de dinheiro cada vez maiores para atingir a excitação desejada

  2. Inquietude ou irritabilidade quando tenta reduzir ou interromper o hábito de jogar

  3. Já fez esforços repetidos no sentido de controlar, reduzir ou interromper o ato de jogar

  4. Preocupação e pensamentos frequentes com o jogo

  5. Frequentemente joga quando se sente angustiado

  6. Após perder dinheiro no jogo, frequentemente volta para ficar quite (recuperar as perdas)

  7. Mente para esconder a extensão do jogo na sua vida

  8. Prejudicou ou perdeu um relacionamento significativo, emprego ou uma oportunidade educacional ou profissional por conta dos jogos

  9. Depende de outras pessoas para obter dinheiro a fim de resolver situações financeiras desesperadoras causadas pelo jogo

FONTE: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, 2013 (DSM-5/2013).

O diagnóstico pode ser alcançado através de uma investigação multidisciplinar, com a presença de psicólogo, neuropsicólogo e psiquiatra, e através de aplicação de testes com validade científica, como o PGSI (Problem Gambling Severity Index), NODS (NORC Diagnostic Screen for Gambling Disorders) ou SGHS (Short Gambling Harm Screen), que são testes com validade científica e com aplicação exclusiva de psiquiatras e psicólogos, para contribuir na investigação e diagnóstico de Transtorno do Jogo.

Apesar da existência do diagnóstico de Transtorno do Jogo, existem pessoas que sofrem com consequências acarretadas pela prática das apostas, sem necessariamente ter a presença de comportamentos claros de dependência, semelhantes ao da dependência química.

O Jogo Problemático pode ser visto como um comportamento que pode acarretar em problemas para o usuário, mesmo que não cumpra com os requisitos para o diagnóstico do Transtorno do Jogo, podendo não ter a presença de sintomas de impulsividade e compulsão, porém estando presente os riscos e consequências envolvidos também no Transtorno do Jogo, como:

  • Um gasto desenfreado
  • Expectativa de retorno financeiro ou de “renda extra” em jogos de azar
  • Buscar regular suas emoções e se anestesiar de um momento ruim utilizando o jogo como artifício

Esses comportamentos trazem grandes consequências financeiras, psicológicas e sociais, inclusive com a perda do emprego e o rompimento dos vínculos afetivos e familiares.

Embora as consequências do Transtorno do Jogo e do Jogo Problemático sejam parecidas, com perdas financeiras, perdas de relacionamentos e, principalmente, perda da qualidade de vida, é importante diferenciar o Transtorno diagnóstico, com a presença de comportamentos de dependência, como a abstinência, e o Jogo Problemático, para uma atuação eficiente do profissional da saúde.

É importante que seja entendido pelos usuários que todos estão passíveis de sofrer os danos de um jogo sem responsabilidade, mesmo que não tenha predisposição ao vício ou um comportamento compulsivo em relação às apostas. Há diversos comportamentos padrões que sinalizam uma relação problemática com o jogo, e é sempre importante se manter alerta e consciente da sua prática.

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A atividade de apostar e jogar é uma atividade de entretenimento. 
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Rafael Ávila

Psicólogo especializado em Jogo Responsável

Uma visão equivocada sobre os jogos, mesmo sem a presença do comportamento compulsivo e vicioso, pode trazer danos e consequências para a vida do jogador.

Como utilizar o Jogo Responsável a seu favor

Algumas das ferramentas mais conhecidas de controle do jogo são utilizadas em diversas casas de apostas, como a auto exclusão da conta, limitação de valores de depósito, limitação de quantidade de tempo.

O Aposta Legal Brasil já trouxe, anteriormente, um levantamento sobre as principais ferramentas que as casas de apostas oferecem em relação ao Jogo Responsável.

Essas ferramentas devem estar à disposição do usuário, que também deverá procurar por elas no seu primeiro contato com a plataforma escolhida, para ver a credibilidade dessa plataforma com seus usuários e com essa iniciativa de ajuda na proteção ao vício aos jogos..

Em muitas plataformas, embora visível, a área destinada para o Jogo Responsável não está em destaque. Pelo contrário, o que vemos são propagandas induzindo o usuário a já depositar e começar a apostar o quanto antes, sem antes se informar sobre os verdadeiros riscos, as consequências que podem surgir e informações verídicas e de qualidade sobre as reais chances de ser lucrativo nos jogos disponíveis.

É de se questionar sobre a posição dos operadores de darem um destaque gigantesco para bônus de boas-vindas, mas não trazer o mesmo destaque para as ferramentas disponíveis para controle da atividade de jogo por parte do usuário.

Infelizmente as regras ainda não são claras no mercado brasileiro, ficam a mercê das próprias casas definirem quais políticas de Jogo Responsável vão aplicar e como vão apresentá-las para o consumidor.

O Jogo Responsável, porém, não se limita ao uso de ferramentas disponíveis. Podemos enxergá-lo como uma filosofia de jogo que deve ser seguida como forma de evitar problemas, entre eles:

  • Entender e reconhecer que a prática do jogo envolve riscos e, independente da forma que se joga, é necessário entender que há a presença de sorte e/ou azar em todas as atividades
  • O jogo deve ser visto como apenas mais uma atividade na sua vida, e não ter uma importância exacerbada e nem maior do que outras atividades de entretenimento
  • Os valores utilizados na prática do jogo não devem ser diferentes dos valores utilizados em qualquer outra atividade de entretenimento, como uma saída, uma ida ao cinema ou qualquer outra atividade de lazer
  • O objetivo final da prática deve ser a diversão, e não uma fonte de renda extra ou esquecer de problemas importantes, como forma de se anestesiar

Jogo Responsável: uma prática central de um relacionamento saudável com as apostas

O Jogo Responsável é uma prática que deve nortear o envolvimento de todos os usuários e operadores de casas de apostas.

Deve ser uma filosofia a ser seguida universalmente, prezando a proteção do jogador e reconhecendo a possibilidade de danos na vida dos jogadores.

Priorizar casas com uma política de Jogo Responsável é uma forma de prevenir danos que podem ser acarretados pelo envolvimento com qualquer atividade relacionada às apostas esportivas e jogos de cassino.

Além disso, buscar casas de apostas que priorizam o Jogo Responsável é uma forma de incentivar que essa prática seja respeitada pelos operadores, sendo assim uma das formas do usuário fazer com que as casas de apostas apliquem com rigor o Jogo Responsável é não estimulando o surgimento de casas sem uma política rígida e funcional, demonstrando que a prática é uma postura exigida pelos consumidores.

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