Casas de apostas se preparam para proibição de bônus e miram na retenção
Diante da proibição de oferecer bônus de boas-vindas, as casas de apostas planejam novas estratégias para atrair jogadores.
A vedação imposta pelo Ministério da Fazenda impede a oferta de qualquer vantagem prévia, como o crédito ao apostador, ou ganhos não monetários, como rodadas ou jogos grátis. Assim, as empresas depositam suas fichas na fidelização de sua clientela.
“Essa dinâmica vai fazer com que o cliente, além de escolher uma casa onde ele possa se fidelizar, consiga ali dentro ter mais benefícios. Em vez de ficar pulando de casa em casa para aproveitar o bônus de entrada de cada uma delas e não se fidelizando com ninguém. Na nossa ótica, acaba sendo um desenvolvimento positivo (a vedação de bônus de boas-vindas)”, avaliou o COO da Esportes da Sorte, Ícaro Quinteiro.
A estratégia de retenção também está nos planos da Sportingbet. A ideia passa por oferecer benefícios a quem cumprir metas previamente estabelecidas pela casa de apostas.
“A percepção é que está muito claro que o bônus de aquisição não vai ser possível, mas a gente ainda está tentando entender se vai conseguir ainda fazer bônus de retenção, fazer bônus para o ciclo de vida (do cliente). A partir de determinado comportamento, você receberia um bônus”, explicou Mariana Gomes, gerente de crescimento da empresa.
As operadoras ainda aguardam que o Ministério da Fazenda dê mais nitidez à possibilidade de praticar ações de fidelização.
Por enquanto, as normativas contemplam somente as formas de créditos concedidos aos novos clientes cadastrados para a realização de apostas.
“A portaria vedou pontos no cadastro, mas o governo federal deverá esclarecer se é possível bonificar o jogador durante o processo”, ressaltou João Mota, da apostou.com, que já opera no mercado de quota fixa com licenças das loterias estaduais do Rio de Janeiro e do Paraná.
Surpresa para as empresas
A Lei nº 14.790, que regulamenta o setor no Brasil, já previa a vedação de "conceder, sob qualquer forma, adiantamento, antecipação, bonificação ou vantagem prévia, ainda que a mero título de promoção, de divulgação ou de propaganda, para a realização de apostas".
Porém, a decisão do Ministério da Fazenda de proibir os bônus de boas-vindas pegou de surpresa a gigante global 1xBet, que opera em mais de 60 países. A casa de apostas ainda traça os planos para novas estratégias de aquisição.
"Essa é uma situação que talvez seja um pouco precoce responder agora. Nós fomos surpreendidos com esse novo decreto. É uma normativa muito recente, mas a gente se adequa às regras, ao que o mercado oferece, o que o mercado sugere para trabalhar legalmente", destacou o gerente regional da 1xBet, Eduardo Ferreira.
“Vamos discutir internamente normas de continuar fazendo com que a nossa marca seja cada vez mais interessante, cada vez mais atrativa. Vamos usar a criatividade, com certeza, para substituir o bônus.”
Envolvido nas discussões iniciais a respeito da legislação regulamentadora sobre apostas de quota fixa, o ex-assessor especial do Ministério da Fazenda e advogado José Francisco Manssur ressaltou que o governo identificava um bônus como um prejuízo social, sobretudo em razão da possibilidade de vício dos apostadores.
“O governo não tinha outra alternativa senão ratificar o que o Congresso Nacional colocou proibindo. Mas acho que é muito mais uma questão de uma mudança de hábitos, hábitos que foram consolidados até hoje, do que algo impeditivo. O mercado está muito preparado para trabalhar sem bônus e conseguir os mesmos resultados”, opinou.
Preocupação com expansão do mercado ilegal
Um motivo de apreensão para as casas de apostas está na possibilidade de empresas não regulamentadas atraírem mais apostadores. Esse cenário tende a ser uma desvantagem para quem busca a regulamentação, com o pagamento de dezenas de milhões de reais pela licença do governo federal.
“O que nos preocupa é o fato de se o mercado legalizado não dar bônus de entrada e o mercado negro acabar dando. Pode ser que, com isso, alguns usuários deixem o mercado legalizado para esse outro mercado”, ponderou o COO da Esportes da Sorte.
Em contrapartida, o Ministério da Fazenda promete combater o mercado ilegal, criando empecilhos para publicidade, meios de pagamento e até retirar sites do ar.
“Quem quiser andar pelo caminho correto tem muito mais chance de ser bem-sucedido e viver com tranquilidade, sem aquele sobressalto de achar que a qualquer momento pode sofrer a pena da lei, a mão do Estado brasileiro.”
Diferencial competitivo e publicidade
Gerente de crescimento da Sportingbet, Mariana Gomes, cobrou que as regras sejam as mesmas para todas as operadoras. Ela acredita que o diferencial de sua empresa para a atração de jogadores será a qualidade do serviço.
“Sem dúvida, atrairemos mais apostadores sendo os melhores do mercado. Mais do que o bônus, o importante é a gente oferecer uma experiência satisfatória. A gente tem um bom produto, tem uma empresa de confiança e, com isso, a gente não precisa de bônus. O usuário vai buscar a gente porque é a melhor plataforma, onde ele encontra o que ele procura”, afirmou.
Entre as estratégias de exposição de suas marcas, as casas de apostas têm investido em patrocínios aos clubes do futebol brasileiro.
Entre as 40 equipes das Séries A e B do Brasileirão, 39 recebem valores de empresas desse mercado.
Patrocinadora do Bahia, do Grêmio e do Athletico Paranaense, a Esportes da Sorte quer atrair mais apostadores também com investimentos em entretenimento. Em meio à disputa com concorrentes que não estariam regulamentados, a empresa planeja transmitir uma imagem de credibilidade ao mercado.
“A gente sempre teve estratégias de aquisição, principalmente nas nossas dinâmicas de marketing. Estamos sempre povoando vários espaços, não só exclusivamente o futebol. Trabalhamos muito o ambiente de entretenimento, e acho que trazer uma entrega de qualidade, uma publicidade de qualidade, que posiciona a marca como uma marca segura, confiável e que entrega um trabalho honesto, faz com que o usuário busque a nossa casa e, assim, a aquisição fica tão boa quanto a entrada com bônus”, analisou o COO Ícaro Quinteiro.
Em 2023, os apostadores brasileiros gastaram mais de R$ 50 bilhões em bets. Não à toa, José Francisco Manssur indicou que os investimentos em campanhas publicitárias tendem a ser um atalho para as casas de apostas conquistarem novos clientes.
“As pessoas não podem ficar dependentes do bônus inicial. Você tem que mostrar um produto bom, um produto confiável, um produto que funcione, um bom trabalho de marketing, de publicidade. Existem muitas outras capacidades, muitas outras habilidades, muito investimento em publicidade que as empresas já fazem hoje, que pode suprir essa questão”, acrescentou.