Apostas nas escolas: como o mercado pode prevenir o envolvimento de menores?
Nas redes sociais se torna cada vez mais comum ver a presença de menores de idade compartilhando apostas, jogando ou falando sobre jogos de azar.
É necessário ver com preocupação essa aproximação, considerando que jovens são populações de risco de desenvolvimento do Transtorno do Jogo (Pérez, 2024) e, quanto mais cedo o seu primeiro contato com os estímulos do jogo, mais chances do comportamento compulsivo surgir e causar graves consequências (Rahman et al., 2012).
Por que menores de idade jogam?
Diversas pesquisas científicas encontraram resultados similares dos motivos que levam os menores de idade a apostar, sendo consenso que a maioria aposta com intenção de ganhar dinheiro, já mostrando um desvio das intenções da prática do jogo, que deve ser focado no entretenimento e não na intenção de ganhar prêmios.
Além disso, uma pesquisa realizada na Espanha aponta que:
- 63.4% dos menores de idade que apostaram afirmaram apostar com amigos ou colegas de classe (Rial et al., 2023), demonstrando ser um situação social;
- 3.7% afirmaram que só apostaram porque os amigos apostam e queriam se sentir pertencentes ao grupo (Rial et al., 2023).
Esse cenário aumenta ainda mais a necessidade do debate sobre novas formas de se comunicar com esse público, esclarecendo sobre as consequências de apostar muito novo.
É importante ainda trazer informações e conscientização e não apenas proibição, que pode ter um efeito contrário causando curiosidade e desejo ao invés de convencimento.
Fatores de risco em menores de idade jogarem
Em outra pesquisa realizada na Espanha, foi encontrado um vínculo estatístico relevante entre a idade que se inicia a prática das apostas e a probabilidade de ser classificado como um apostador problemático no futuro.
Aqueles que começam a apostar antes dos 18 anos têm uma probabilidade 50% maior de enfrentar problemas relacionados ao jogo em comparação com aqueles que começaram a apostar depois dos 18 anos (Pérez, 2024).
A adolescência é um período onde as pessoas estão mais dispostas a correr riscos e agir inconsequentemente, porém algumas dessas consequências podem acompanhar por muito tempo.
O que podemos fazer?
As casas têm função primordial no combate ao acesso de menores de idade ao jogo, como a utilização de ferramentas aprimoradas de identificação do usuário, como reconhecimento facial e outras ferramentas de KYC (Know Your Customer).
Mas a responsabilidade não fica apenas com as casas.
É necessário também se aproximar dos jovens e oferecer palestras de conscientização, baseadas em dados e conteúdo científico e não alarmismo, explicando os riscos que os jovens enfrentam tendo contato com jogos de azar muito cedo, como a chance muito mais alta de desenvolver Transtorno do Jogo e ter problemas relacionados.
“É importante também um acompanhamento e fiscalização acerca da publicidade dos jogos.”
As ações publicitárias estão presentes em partidas esportivas e jogos on-line, que há um grande interesse por parte dos jovens.
A publicidade não pode ter elementos que se comuniquem com o público mais jovem, com uma linguagem e referências para atrair a atenção destes, sendo conteúdo publicitário claramente destinado a adultos.
É possível também utilizar da publicidade para conscientizar as pessoas com informações acerca dos jogos de azar antes da maioridade, divulgando os riscos e consequências possíveis.
Recentemente, o América-MG realizou uma campanha muito legal com crianças africanas, e teve algo que chamou atenção: a principal patrocinadora do América-MG é uma casa de apostas.
Como parte da campanha, dezenas de crianças receberam uniformes do América e tiraram fotos estampando a marca, resultando em várias crianças participando de campanha publicitária contendo uma casa de apostas.
Isso mostra como ainda estamos distantes dos resultados que almejamos, e que, mesmo com boas intenções, o pensamento crítico a respeito da publicidade das casas de apostas ainda tem muito a amadurecer no Brasil.
Proteger os jovens é parte crucial de um crescimento do setor de forma saudável, mitigando os riscos sociais e reduzindo os danos que podem surgir.
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