Interesse por jogo do tigrinho cresceu mais de 63 vezes em 2023

Atualizado: 19 Mar 2024
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Heloísa Vasconcelos

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Jornalista
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Foto: Divulgação/ PG Soft

O Fortune Tiger, conhecido popularmente como “jogo do tigrinho”, virou febre no ano passado. Contando com a divulgação de influenciadores digitais, o jogo do tipo caça-níquel chegou a ser investigado por esquema de pirâmide e acumula milhares de usuários.

De acordo com dados do Google Trends, o interesse na busca pelos termos “Fortune Tiger” e “jogo do tigrinho” no Google cresceu mais de 63 vezes no ano de 2023, com pico de buscas no mês de agosto.

O Aposta Legal Brasil tentou contato com a PG Soft, provedora do jogo, em busca de dados de acesso ao jogo durante o ano passado, mas não recebeu respostas até a publicação desta reportagem.

Especialistas chamam atenção para o risco de vício em jogos desse modelo e apontam o papel da propaganda na proporção que o tigrinho tomou no universo das apostas.

O que é o jogo do tigrinho?

Oferecido por grande parte das casas de apostas que atuam no Brasil, o Fortune Tiger é um jogo do tipo caça níqueis. O jogador faz uma aposta e, caso tenha a sorte de ter ícones iguais aparecendo na tela, tem o valor apostado devolvido impulsionado por multiplicadores.

Em termos de jogabilidade, o tigrinho não traz muito diferencial de outros jogos do mesmo estilo de jogos. Segundo o professor de linguagens e cultura pop da Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, José Maurício Conrado, o grande diferencial para a febre desse jogo específico foram as redes sociais.

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A gente tem a ajuda de uma ferramenta muito poderosa, chamada Tiktok. O Tiktok tem a capacidade de impulsionar artistas pop e esses joguinhos.

José Maurício Conrado

Professor de linguagens e cultura pop da Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo

“Hoje a gente utiliza de forma massiva as redes sociais e isso é também bastante decisivo, o nível de exposição que estamos também é um fator que influencia”, diz.

Do ponto de vista publicitário, o jogo também teve um importante impulsionamento por parte de influenciadores digitais, pagos por plataformas de apostas para divulgar o Tigrinho.

A doutora em psicologia social e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Janaína Farias, destaca que esse tipo de propaganda tem um impacto mais pessoal sobre os consumidores.

“A propaganda influencia porque é um meio de identificação, ela vai para você sem que você procure. Se usam estratégias de manipulação, de persuasão, para que a pessoa se interesse por aquilo. Querendo ou não, os influenciadores hoje são uma grande forma de propaganda. Eles vendem um estilo de vida, o que as pessoas querem ser”, coloca.

Dinheiro fácil

Outro ponto que atrai os apostadores a esse tipo de jogo é a promessa de um dinheiro fácil e rápido, ideia frequentemente divulgada pelos influenciadores digitais.

Para Janaína, isso traz um risco psicológico e financeiro, já que essa é uma promessa falsa. Todo tipo de jogo de aposta traz algum risco.

“Muitas pessoas que divulgam acabam não conhecendo os limites, fazem propaganda enganosa. Para as pessoas que tem uma propensão maior, tem o vício. Porque se torna mais fácil de a pessoa ter acesso, a divulgação é um convite”, alerta.

José também chama atenção para os riscos de propagar na internet jogos como o Fortune Tiger e outros jogos de azar, como o Aviator, que ficou conhecido como “jogo do aviãozinho”.

“Na maioria das vezes, a internet se tornou um território sem lei. Posso oferecer jogos de azar, colocar as pessoas em risco financeiro, porque não há nenhum tipo de legislação que consiga cobrir esse contexto”, critica.

Ele considera que o jogo do tigrinho pode até ser uma febre passageira, mas outros jogos devem vir ocupar esse lugar. Janaína concorda com a análise.

“O jogo faz parte da interação humana, ele faz com que a pessoa tenha uma impulsão de dopamina, faz com que a pessoa tenha um prazer imediato. Eles vão se modificando, eles não saem, talvez um jogo em si perca interesse mas os jogos continuam, talvez com uma outra roupagem”, prevê.

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