SUS atendeu mais de 10 mil viciados em apostas
Entre janeiro de 2018 e maio de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 10.553 atendimentos por transtornos relacionados a jogos e apostas.
Do total, 4.316 atendimentos ocorreram nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e 6.237 na Atenção Primária à Saúde (APS).
Os registros consideram diagnósticos de jogo patológico (F63.0) e mania de jogo e aposta (Z726), categorias que começam a ganhar espaço nos sistemas públicos de saúde mental.
O dado inédito foi divulgado no relatório final do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) e cruzado com dados públicos pelo Aposta Legal.
O documento, criado para formular políticas de prevenção e redução de danos ligados ao jogo problemático, é resultado de uma parceria entre os ministérios da Fazenda, Saúde, Esporte e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).
Comparativo com outros transtornos mentais
Os números de atendimento por ludopatia ainda são muito menores do que os registrados para outros transtornos mentais no SUS.
Nos últimos cinco anos, o sistema registrou uma média anual de 450 mil atendimentos por depressão, 280 mil por transtorno bipolar e cerca de 800 mil por dependência de álcool ou drogas.
Para cada atendimento do SUS relacionado ao vício em apostas, há pelo menos 200 casos de depressão, 160 de transtorno bipolar e quase 500 de dependência química.
Embora o número de casos de ludopatia ainda seja pequeno diante desses transtornos, o crescimento recente do mercado de apostas digitais e a falta de protocolos específicos tornam o vício em jogos um problema emergente de saúde pública.
O Brasil tem mais de 215 milhões de habitantes, e os 10.553 atendimentos em sete anos representam menos de 0,005% da população. Mas, segundo o relatório, isso não significa ausência do problema, e sim subnotificação.
É que a maior parte dos apostadores problemáticos não chega a procurar o SUS. E, quando chega, muitas vezes entra com outro diagnóstico, como ansiedade e depressão.
Plano do governo federal contra ludopatia
Para enfrentar a lacuna de identificação e tratamento, o governo anunciou uma série de medidas interministeriais.
Entre elas estão a criação de um autoteste psicológico padronizado, o lançamento de uma plataforma nacional de autoexclusão e a formação de profissionais do SUS para acolher casos de dependência em apostas.
O autoteste, desenvolvido com apoio da Universidade de São Paulo (USP) e coordenado pelo psiquiatra Hermano Tavares, será obrigatório nas plataformas de apostas licenciadas.
A ferramenta, baseada em critérios clínicos, permitirá que o jogador avalie seu comportamento e identifique sinais precoces de risco.
A plataforma centralizada de autoexclusão, desenvolvida pelo Serpro, permitirá que qualquer cidadão bloqueie voluntariamente o próprio acesso a todas as casas de apostas licenciadas e pare de receber comunicações publicitárias.
O sistema será gratuito e integrado à Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), ligada ao Ministério da Fazenda.
Além disso, o GTI propõe linhas de acolhimento especializadas, inspiradas no Disque 100 e Disque 180, para garantir escuta humanizada e encaminhamento a serviços de saúde mental.