Fala do poder público evidencia falta de conhecimento sobre transtorno do jogo

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Rafael Ávila

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Rafael Ávila é Psicólogo com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), com vasta experiência no mercado de iGaming e Apostas Esportivas. Trabalha na área das Apostas Esportivas há mais de 4 anos, carregando experiências como apostador e coLeia mais
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Júlia Silva

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As recentes declarações de autoridades públicas brasileiras sobre o transtorno do jogo evidenciam uma preocupante falta de compreensão acerca da natureza dessa patologia. Analisei algumas dessas falas e suas implicações.

"Mulheres não trocam o certo pelo duvidoso" — Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em outubro de 2024, o presidente Lula afirmou que mulheres não utilizariam recursos do Bolsa Família para apostas online, sugerindo que elas não "trocam o certo pelo duvidoso".

Essa declaração ignora que o transtorno do jogo não faz distinção de gênero. Mulheres, incluindo mães, também são suscetíveis a desenvolver dependência em jogos de azar.

É fundamental reconhecer que o comportamento compulsivo não reflete falta de responsabilidade ou amor pelos filhos, mas sim uma condição de saúde que requer atenção e tratamento adequados.

"É um fenômeno novo" — Ministério da Saúde.

O Ministério da Saúde, em ofício à Câmara dos Deputados, classificou o vício em jogos de apostas como um "fenômeno novo".

Essa percepção desconsidera décadas de pesquisas científicas internacionais que identificam o transtorno do jogo como uma patologia estabelecida, independentemente de ocorrer em plataformas online ou em cassinos físicos.

A dependência gerada é similar em ambos os contextos, e a falta de políticas públicas específicas no Brasil evidencia um despreparo para lidar com essa questão de saúde pública, que já existe a prática de jogo desde antes do surgimento das plataformas de iGaming, com forte presença de bingos, cassinos clandestinos e jogo do bicho. Além disso, as plataformas online já estão presentes no país de forma legal desde 2018.

"Criação de uma nova classificação internacional de doença" — Ministra da Saúde, Nísia Trindade.

A ministra Nísia Trindade mencionou a possibilidade de reforçar ações nas Equipes de Saúde da Família para assistir pessoas com vício em apostas e sugeriu a necessidade da criação de uma nova classificação nos manuais de diagnósticos internacionais.

No entanto, a criação de uma nova classificação internacional de doença para o transtorno do jogo é desnecessária, pois os sintomas e tratamentos são equivalentes, seja em plataformas online ou em ambientes físicos.

O foco deve ser na capacitação dos profissionais de saúde para identificar e tratar adequadamente essa condição, utilizando as diretrizes já existentes, independente da modalidade de jogo praticada.

"Qualquer CAPS do Brasil tem condições de atender pessoas com problemas relacionados aos jogos" — Diretora de Saúde Mental do Ministério da Saúde.

A diretora de Saúde Mental afirmou que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) estão aptos a atender indivíduos com problemas relacionados ao jogo, já que os profissionais têm experiência em lidar com pacientes com dependência química.

Contudo, a dependência em jogos requer abordagens terapêuticas específicas, distintas daquelas utilizadas para dependências químicas. Relatos de pacientes indicam que muitos não têm sido encaminhados adequadamente, evidenciando uma lacuna na capacitação dos profissionais dos CAPS para lidar com o transtorno do jogo.

Conclusão

As declarações analisadas refletem uma compreensão limitada sobre o transtorno do jogo por parte das autoridades públicas brasileiras.

É imperativo que o poder público reconheça a seriedade dessa condição, independentemente do gênero ou do meio pelo qual o jogo é praticado.

A implementação de políticas públicas eficazes, a capacitação dos profissionais de saúde e a conscientização da sociedade são passos essenciais para enfrentar esse desafio de saúde pública.

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