O que é necessário para o jogo responsável? Especialistas em apostas discutem
Ano após ano, o mercado de apostas no Brasil registra um crescimento exponencial. Apenas em 2023, os brasileiros desembolsaram mais de R$ 50 bilhões em apostas online, conforme levantamento do Datafolha.
Essa cifra impressionante poderia ser motivo de celebração para os especialistas do setor, mas também suscita preocupações. Surge, então, a indagação: o que pode ser feito para promover o jogo responsável?
Essa questão foi amplamente discutida durante o evento SiGMA Américas, evento que reuniu representantes de casas de apostas, loterias estaduais e entidades relacionadas ao mercado de apostas esportivas.
Diante do panorama de bilhões de reais movimentados anualmente, com uma tendência de crescimento contínuo, Rodrigo Alves, presidente da Associação Brasileira de Apostas Esportivas (Abaesp), alerta para a necessidade de medidas para evitar o jogo compulsivo.
"É unânime na indústria que o jogador compulsivo é danoso para todos. A partir do momento que você é iludido pela ideia que pode ganhar dinheiro fácil, muitos entram nesse universo pela porta errada", afirmou, em entrevista ao Aposta Legal Brasil.
O presidente da Abaesp criticou o que percebe como um "marketing irresponsável" por parte das empresas do mercado de apostas, apontando a falta de uma preocupação genuína com os apostadores. Além disso, ressaltou que uma pequena parcela de jogadores adota métodos de gestão de banca e encara a atividade como uma oportunidade de lucro.
Cobrança de proatividade das casas de apostas
Especialistas destacam que a responsabilidade pelo jogo responsável recai tanto sobre os apostadores quanto sobre as casas de apostas. Há uma crescente pressão para as empresas adotarem medidas restritivas ao vício, visando a reduzir os prejuízos financeiros para os jogadores.
Reconhecendo essa dualidade de responsabilidade, o presidente da Abaesp observou que, embora os jogadores devam impor seus próprios limites, a indústria também tem sua parcela de responsabilidade.
Considerando que as casas de apostas possuem uma vasta quantidade de informações sobre o comportamento dos jogadores, espera-se que atuem proativamente para coibir práticas de jogo irresponsável.
Entre as soluções propostas estão as ferramentas de autoexclusão, destinadas aos jogadores que reconhecem sua dificuldade em controlar as apostas, bem como a imposição de limites diários de valores apostados.
Por sua vez, as casas de apostas prometem combater o jogo irresponsável e adotar uma postura empática com seus clientes. Ruy Conolly, CTO da Esportes da Sorte, destacou a necessidade de abordar os apostadores de maneira empática.
“O ambiente do jogo tem que ser sustentável e, para isso, deve haver equilíbrio dos dois lados, por parte do apostador e do operador”
Preocupação com cassinos e novas empresas
Desde 2018, as apostas de quota fixa são legalizadas no Brasil. No entanto, o mercado aguardou anos pela regulamentação, que finalmente foi estabelecida pela Lei 14.790, sancionada em dezembro de 2023.
Com a regulamentação, surgiu a oportunidade para novas operadoras entrarem no mercado, suscitando preocupações quanto à sua proatividade na promoção do jogo responsável.
O presidente da Abaesp observou que, durante muito tempo, o mercado brasileiro adotou boas práticas internacionais devido à ausência total de legalização e posterior regulamentação das casas de apostas.
“Os players mais recentes do mercado acabam trazendo pouca ou nenhuma preocupação para que o jogo de fato seja responsável”, analisou.
Rodrigo Alves também expressou preocupação com a possibilidade de os cassinos atraírem mais jogadores propensos ao vício e à compulsão por apostas. Ele apontou que essas empresas promovem a ilusão de ganhos rápidos, a partir de um marketing enganoso que leva muitos consumidores a perdas significativas.
“Existe aquele marketing irresponsável que fala de sinais, de métodos, disso e daquilo, dando essa falsa impressão de que muito rapidamente você poderia obter altos ganhos com jogo de cassino, o que sabemos que não é verdade. Mas muitos dos consumidores não têm essa percepção e acabam sendo levados a perdas por conta do marketing irresponsável, que, infelizmente, tem se mostrado algo muito grande na indústria hoje”, disse.
Carência de uma rede de saúde mental para apostadores
Durante o SiGMA Américas, o psicólogo Cristiano Costa, CKO da Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo (EBAC), abordou a carência de uma rede de saúde mental no Brasil para lidar com a compulsão por apostas. Ele enfatizou que a atual estrutura da rede de saúde mental no país não está preparada para acolher e tratar adequadamente esse problema.
“É importantíssimo que o jogador tenha acesso a recursos caso ele necessite. A principal ferramenta que possuímos é a autoexclusão, o jogador perceber que seu comportamento está fora de controle e buscar suporte. É necessário que esse jogador, ao decidir lidar com esse aspecto do seu comportamento, encontre um caminho adequado para seguir essa jornada”, salientou.
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