A responsabilidade das empresas fora do ecossistema do iGaming
Embora o foco da discussão sobre regulamentação e responsabilidade no setor de apostas esteja frequentemente voltado para as casas de apostas e operadoras de iGaming, é crucial ampliar esse debate para incluir as empresas que, mesmo fora desse ecossistema, contribuem para a propagação de práticas que podem prejudicar os consumidores e, até indiretamente, lucram com o setor...
Plataformas de mídia, redes sociais, bancos e provedores de pagamento desempenham papéis importantes nesse cenário.
Conteúdo patrocinado e a conivência velada
Um exemplo emblemático é o de plataformas que fazem a divulgação de conteúdos patrocinados, como Google Adsense e Meta Adsense.
Em acesso a página de Jogo Responsável de um grande portal de notícias, o leitor pode se deparar com publicidades relacionadas à prática de jogo e, mais impactante ainda, sem qualquer filtro ou controle, como esse print mostra uma propaganda ilusória e que redireciona para uma plataforma clandestina em meio a uma matéria que ensina a jogar com responsabilidade.
A ausência de filtros rigorosos para o tipo de conteúdo anunciado em plataformas renomadas não só prejudica os esforços de conscientização, mas também contribui para normalizar golpes e práticas enganosas.
“Empresas responsáveis por esse tipo de publicidade precisam ser responsabilizadas pelo impacto de seus anúncios.”
Redes sociais e a falta de regulamentação
As redes sociais desempenham um papel ainda mais preocupante nesse cenário. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube são inundadas por influenciadores promovendo cassinos online e esquemas de aposta com promessas irreais de enriquecimento.
Essa prática ocorre em grande parte devido à falta de regulamentação específica que responsabilize as redes e os próprios influenciadores pelo conteúdo veiculado.
Embora algumas plataformas tenham políticas contra conteúdos nocivos, a aplicação dessas regras é, muitas vezes, ineficiente.
Além disso, a segmentação de anúncios baseada em algoritmos pode levar conteúdos de alto risco a públicos vulneráveis, como jovens e indivíduos com histórico de comportamento compulsivo ou ludopatia e que são inundados por anúncios de casas de apostas e gatilhos que podem despertar o impulso de jogar.
Bancos e provedores de pagamento: facilitadores ou cúmplices?
A responsabilidade das instituições financeiras e dos provedores de pagamento também merece atenção. Muitos bancos e plataformas atuam como intermediários financeiros para sites clandestinos e operadores de jogos de azar.
A ausência de um sistema robusto de monitoramento e bloqueio de transações para essas empresas facilita a operação do mercado ilegal.
Ao mesmo tempo, as instituições financeiras poderiam atuar como aliadas na proteção dos consumidores, alertando para transações suspeitas e implementando bloqueios direcionados.
No entanto, sem regulamentação que os obrigue a adotar tais práticas, essas empresas muitas vezes permanecem omissas.
A necessidade de uma responsabilização abrangente
Para combater efetivamente os problemas associados ao mercado de apostas, é necessário que a responsabilidade vá além das operadoras de jogos.
Bancos, provedores de pagamento, portais de notícias, redes sociais e até mecanismos de busca devem ser incluídos em um marco regulatório abrangente.
Essa regulamentação deve estabelecer critérios claros para:
- O controle de anúncios veiculados por empresas como o Google Adsense
- A remoção de conteúdos enganosos em redes sociais e a penalização de influenciadores que promovem esquemas ilícitos
- O bloqueio de transações financeiras para sites não licenciados
- A responsabilização de portais e plataformas pela exibição de conteúdos que incentivam práticas nocivas
Somente com uma abordagem sistêmica será possível proteger os consumidores e assegurar que toda a cadeia envolvida no mercado de apostas e jogos on-line cumpra sua parte na promoção de um jogo verdadeiramente responsável.