PF investiga ligação de ex-Bolsonaro com 7Games
O que a CPI das Bets não conseguiu esclarecer, a Polícia Federal tenta agora resolver em outra investigação.
Um pedido sigiloso de abertura de inquérito foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de maio, com objetivo de investigar a relação entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, dono de casas de apostas como a 7Games, R7 Bet e Betão Bet.
A investigação chega ao STF após o encerramento da CPI das Bets, que terminou em junho sem aprovar um relatório final, um desfecho raro no Senado.
Integrante da comissão, Ciro Nogueira era, ao mesmo tempo, responsável por investigar Fernandin e também seu companheiro de viagem para o GP de Mônaco de Fórmula 1, em maio.
Os dois embarcaram juntos no jato Gulfstream do empresário e se hospedaram em uma embarcação na marina do principado europeu. As informações são da Revista Piauí.
Antes de ser dono da 7Games, Fernandin OIG foi agente do humorista Whindersson Nunes
O que diz a investigação?
Relatórios do Coaf acessados pelos senadores e remetidos à PF revelaram que Fernandin transferiu R$ 625 mil a Victor Linhares de Paiva, ex-assessor de Ciro, entre dezembro de 2023 e setembro de 2024. Paiva, por sua vez, repassou R$ 35 mil à conta pessoal do senador.
Ciro afirmou que se tratava do reembolso de uma estadia na Itália e da venda de um relógio de luxo, modelo Richard Mille, entre o empresário e seu ex-assessor.
Há mais. Fernandin comprou três apartamentos em um prédio cuja incorporadora tem como sócia a empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis. O senador negou conhecimento da operação, embora seja sócio da empresa.
Segundo relatório do Coaf, o patrimônio de Fernandin saltou de R$ 36 milhões para R$ 143 milhões entre 2022 e 2023, um crescimento de quase 300%, cuja origem os analistas classificam como não justificada.
7Games é a quarta casa de apostas mais popular do Brasil e, segundo investigações, pode faturar R$ 160 milhões por mês
Quanto fatura a 7Games?
Um ponto de atenção da PF é o faturamento declarado de Fernandin. Na CPI, ele estimou R$ 200 milhões por ano com suas três bets. Mas dados de ISS da prefeitura de Santo Antônio de Lisboa (PI), onde uma das empresas se instalou em 2023, sugerem um faturamento mensal de até R$ 160 milhões apenas da 7 Games Bet.
Antes da chegada da empresa, o município arrecadava R$ 50 mil por mês com o imposto. Depois, saltou para R$ 1,6 milhão. Coincidência ou não, a sede da empresa fica na casa da mãe do corregedor-geral do Piauí, Erivan Lopes (irmão do prefeito da cidade e descrito por Ciro como “um pai para o Fernandin”).
Com 34 anos, o empresário começou a carreira como agente do humorista Whindersson Nunes e logo prosperou no setor de games e apostas.
Hoje, acumula amigos famosos, imóveis de luxo e jatos particulares. Um deles, inclusive, já levou o ministro Kassio Nunes Marques para a Grécia, em comemoração ao aniversário do cantor Gusttavo Lima, outro rosto ligado à publicidade de casas de apostas.
Procurados, Ciro Nogueira e Fernandin OIG não se manifestaram sobre o pedido de investigação.
Na CPI, Fernandin depôs duas vezes. Em uma delas, foi dado como ausente por estar “fora do país”, mas almoçava no mesmo dia em Brasília com o ministro Kassio Nunes Marques, do STF, com quem mantém amizade, inclusive compartilhando voos em jatinhos.
Após essa visita, Fernandin foi notificado para depor, mas não voltou mais à comissão. Teve o status alterado de testemunha para investigado, após inconsistências nos depoimentos e nos dados financeiros apresentados.
A CPI se propunha a investigar o impacto das apostas online nas finanças das famílias e possíveis vínculos com o crime organizado. Ao longo de 2024, aprovou requerimentos e convocou influenciadores como Deolane Bezerra e Virginia Fonseca. Mas, no fim, rejeitou o relatório final que recomendava o indiciamento de 16 pessoas.
Ainda assim, os dados da relatora foram entregues à PF e à Procuradoria-Geral da República e deles surgiu o pedido de investigação que agora aguarda análise da ministra Cármen Lúcia no STF.